A
Caixa de Pandora Brasil 2018
por Dennis de Oliveira Santos
Relações promíscuas entre
Estado e corporações empresarias, os dramas regionais sendo alargados, uma
justiça partidarizada, perda de direitos sociais, a desigualdade se impondo
como uma pluralidade intrínseca, um nefasto sistema partidário de coalizão que
tende a se perpetuar e um governo federal amplamente denunciando que balança
mas não cai dado o auxílio dos outros poderes - essa é a caixa de pandora aberta e que sangra diante do
descontentamento popular (nem tão "descontente" assim tamanho o
imobilismo atual nas ruas). Já que a esperança é a última que falece (e já está
em vias terminais nas paragens políticas daqui), a questão inevitável para 2018
é: algum dos prováveis presidenciáveis apresenta uma agenda/projeto para pensar
o Brasil daqui pra frente?
Essa temerosa indagação joga
nossos afoitos olhares para um centro político esvaziado de propostas
sólidas/inovadores ou colide nossos ânimos com as perdas sociais irreparáveis
(fruto das reformas) que dificilmente qualquer presidente eleito poderá
reverter. Não há uma ideia inovadora, um projeto que de fato combata o maior
problema da nação (a desigualdade) - nossos prováveis candidatos estão muito
aquém dessa possibilidade. As cantigas de sempre lavam a roupa do corpo político.
Os cantos são tão repetitivos, tão capengas, que a opinião pública anda
acabrunhada, desbaratinada.
Nada de projeções
nacional-desenvolvimentistas, retomada do crescimento industrial/ consumo
interno, de diminuir a dependência do capital estrangeiro - que Celso Furtado e
Florestan Fernandes não se sintam tão incomodados em seus caixões diante desse
sepulcro neoliberal, dessa verborragia política dominada pelos gritos de
"Estado mínimo", "privatiza tudo" e etc. Diante da entrega
do nosso patrimônio as grandes potencias mundiais por parte de Temer, instante
em que nossas cadeias produtivas estão se internacionalizando em detrimento da
perda da autonomia nacional, o cenário é desolador no que concerne uma saída
para a crise existente.
Seguindo a retórica neoliberal e
usando elegantes camisas Ralph Laren, João Dória deseja vender a ideia de uma
nova gestão que deseja "acelerar o país". Mas para além de sua
midiática exposição em selfies e vídeos de youtube, o que vemos é um prefeito
que privatiza praças públicas em São Paulo para gerar capital para empresas
amigas. Um administrador que além de cortar programas sociais que atendia
populações carentes na área da educação e saúde, teve a cruel coragem de jogar
água gelada em moradores de rua num dia extremamente frio na cidade paulistana.
O corte de merenda para crianças ou a praça de guerra montada contra
dependentes químicos demonstra que o empresário é apenas um Temer versão 2.0 no
trato das questões sociais.
No mesmo lado do palavreado
hayekiano, temos o vociferador de preconceitos e potencializador da cegueira
ideológica que paira sobre a opinião pública, o conservador Jair Bolsonaro.
Entretanto, ao contrário do empresário paulistano, o "inquisidor" de
minorias vai aderir ao discurso econômico vigente por mera indução dos seus
apoiadores e mantenedores de campanha - já que o mesmo confessou que pouco ou
quase nada sabe a respeito de temas econômicos. É o político que defende um
nacionalismo raso, pífio, de verborragia contra as esquerdas, mas que teve um
silencio intencional quando as riquezas da Petrobras foram leiloadas para o
capital estrangeiro. Quem cala consente.
Do outro lado do ringue
político temos o que Brizola definiu muito bem: a esquerda com a qual a direita
goza. Apesar do desgaste da imagem do PT em função dos seus (des)caminhos no
poder, Lula (caso não seja preso por discutíveis ações jurídicas) é forte
candidato a presidente, o que é decorrente de um típico líder carismático e a memória dos programas sociais gestados pelo
ex-presidente. O partido em questão e seu líder parece não fazer uma
autocrítica necessária e pelo visto vai repetir os mesmos erros que levou a sua
derrocada durante o mando de Dilma. Isso porque Luís Inácio volta a cometer os
mesmos erros da política de alianças que derrubou esta agremiação - buscar
apoio dos velhos caciques do PMDB. Assim como foi a política de alianças no
período Dilma, a qual gerou a cobra dentro do próprio ninho que depois a
engoliu (Eduardo Cunha), Lula em sua caravana no Nordeste insistiu no erro em
buscar o neocoronel alagoano Renan Calheiros como apoio político.
De que forma Lula vai retomar
as políticas de redistribuição de renda que efetivou com o apoio dos
mandachuvas do PMDB que já provaram que a qualquer momento podem se vender para
forças contrárias? Como o PT vai defender essa situação em período eleitoral
perante a opinião pública diante de sua constante oposição no período pós-golpe
ao partido de Temer? E o mais alarmante: como vai conseguir manter uma unidade
de interesses no Legislativo diante do constante racha interno do PMDB e a
oposição que muitos parlamentares farão contra tudo que não é privatizar a
coisa pública? De um Lula política de alianças renovado, o qual anda elogiando
José Sarney e Emilio Odebrecht, é difícil pensar um campo político em que as
elites nacionais não irão influenciar negativamente (e partir dos seus
interesses privatistas) no provável governo petista que defenda o aumento de
programas sociais.
Alguns elegem como a luz no fim
do túnel o cearense Ciro Gomes. Com a postura do nordestino valente, do cabra
macho e com uma certa petulância, o político se coloca como o nome ideal para
"salvar" o país - uma retórica de líder messiânico que deixaria
boquiaberto o genial Max Weber. O apresentador de soluções infalíveis até
apresenta ideias inovadoras que podem auxiliar no desenvolvimento nacional:
diminuir a dependência dos produtos estrangeiros, taxação de impostos
diferenciado sobre fortunas e etc. Entretanto, o ex-ministro não explica
detalhadamente, não desenvolve uma estratégia clara de como iria alcançar tais
medidas políticas.
De que forma, por exemplo, Ciro
iria conseguir impor a taxação sobre fortunas ou parar o processo de
privatização diante de um Legislativo hiperconservador economicamente e uma
mídia corporativista que iria destruir sua imagem diante da opinião pública? No
período pós-Dilma uma coisa que ficou clara foi o fortalecimento das elites
tanto no poder como também no discurso anti-esquerdismo hegemônico entre alguns
setores da população. Ciro discursa, entra em embate com opositores, mas em
nenhum momento detalha como um governo que se coloca como progressista irá
conseguir vencer as inúmeras barreiras que serão colocadas por uma elite que se
revigorou no poder.
Além disso, o ex-governador do
Ceará está mais para centrão do que esquerda. O que dizer de uma cria política
de Tasso Jereissati, que já foi do PDS, PMDB, PPS e agora no PDT? Esse pula
galho partidário em busca do poder é o mesmo que se observa em Marina Silva -
presidenciável que defende a preservação
do meio ambiente, mas tem sua campanha apoiada pelo dinheiro de empresas
como o Banco Itaú. Soma-se a essa contexto, o fato da acreana emitir um
discurso dúbio, que constantemente é alterado diante das situações - ela nunca
deixou claro que se opõe ao discurso neoliberal hegemônico no país.
Enfim, temos uma alta noite de
desalento que se estende sobre o país, um vácuo, uma ausência de novos
horizontes que poderiam impor políticas públicas de redistribuição de renda e
remontar a autonomia nacional. Apesar do desanimo que se abate sobre nossas
cabeças, o momento é do povo se reorganizar e pressionar tais presidenciáveis a
apresentarem propostas que pragmaticamente mudem os rumos do país. Que sejamos
pessimistas na razão para encontrar o otimismo na vontade.
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