sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Os Equívocos na Reforma Educacional do Governo Temer

                                            





 Os Equívocos na Reforma Educacional do Governo Temer

por Dennis de Oliveira Santos

O projeto de lei defendido pelo governo Temer, no qual se pensa em diminuir o número de disciplinas ofertadas no ensino médio e “enxuga-las” em grandes áreas é um retrocesso para o ensino público brasileiro. O primeiro equivoco que assinala isso é que essa intenção governamental fere os princípios constitucionais e os existentes na LDB (lei de diretrizes e bases da educação) sobre o tema. Isso porque os dois dispositivos jurídicos definem que as escolas no ensino médio devem ser integradas à educação profissional via uma leitura de mundo interdisciplinar nas diversas áreas do conhecimento.

De acordo com a Constituição e os mais modernos parâmetros pedagógicos sobre o assunto, o aluno deve, minimamente, ao final do ensino médio ser capaz de elaborar uma leitura das questões sociais ao seu redor ao mesmo tempo que saiba utilizar os conhecimentos das ciências exatas para compreender os fenômenos físicos e químicos do meio ambiente. É uma visão pluralista e integrada na qual o jovem tenha conhecimentos básicos nas várias áreas do saber para ser um cidadão atuante em sua sociedade e saiba compreender problemas de diversas “naturezas”.

Apesar disso, nessa reforma proposta, o aluno irá para o ensino superior com uma formação deficitária. Pois, se ele optar por estudar ciências humanas terá um grande desconhecimento das áreas de química e física, por exemplo. Optando pelas ciências exatas, não saberá fazer uma leitura de questões sociais em geral e como funciona as estruturas políticas.

A perda educacional é terrível, pois o projeto aí proposto se parece muito com o que foi praticado no início do século XX – época em que as pessoas eram meramente formadas para o mercado de trabalho, de forma tecnicista, com baixa capacidade crítica e de participação nos assuntos públicos importantes para o país. Se queremos uma sociedade cada vez mais democrática e participativa na “coisa pública”, vamos então justamente retirar os instrumentos necessários para isso? Esse projeto de lei quer instituir a educação enquanto mero preparo para o campo de trabalho e tirar da sociedade a possibilidade plural dela interpretar e compreender o mundo em diversas áreas do saber.

Esse modelo é inspirado nos Estados Unidos, o qual se sabe amplamente que é um sistema bastante ineficaz comparado com o europeu. O norte americano médio é extremamente atávico em relação ao mundo justamente por esse "enxugamento de matérias". A população norte americana tem grande dificuldade quando o assunto é entender as relações culturais fora de seu país – muitas vezes simplesmente desconhecem, reproduzem preconceitos sobre culturais alheias por desconhecimento das mesmas. É desse ambiente que se gera uma massa de manobra a qual aceita que seu governo estabeleca conflitos internacionais entre diversos povos.  

Os choques culturais como do Oriente Médio e guerras como a do Iraque nascem do desconhecimento dessas realidades sociais por parte dos filhos do Tio Sam. Se eles são pragmaticamente bem preparados para o campo de trabalho, o mesmo não acontece no tocante a cidadania e valores humanitários em geral. É necessária uma educação que equilibre essas duas facetas das necessidades humanas.

Outro equívoco levantado é o fato de que o adolescente está numa fase da vida que não tem maturidade suficiente para escolher disciplinas e curso de graduação, muitas vezes só escolhe o curso universitário quando encerra o ensino médio. Para que isso seja operacionalizado seria necessário que as instituições educacionais tivessem o apoio de psicólogos, os quais auxiliariam os jovens rumo a formação profissional. Em tempos políticos que o governo congela por anos os investimentos nas áreas públicas e repete um mantra neoliberal de corte com gastos sociais dificilmente esse suporte profissional será instituído pelo poder executivo.   

O ensino integral é de fato positivo, mas não há estrutura alguma em nossas escolas para efetivar esta ação. E mais, da forma que está sendo sugerido estas mudanças vão aprofundar o abismo entre ricos e pobres – será mais um instrumento para a perpetuação da desigualdade social. Pois hoje se sabe que adolescentes pobres usam o contra turno escolar para trabalharem (mesmo que de modo informal) para complementarem a renda familiar. Para enxergar isso mais de perto basta fazer um perfil dos alunos das escolas públicas durante o período noturno.


O que pode acontecer nesse contexto? Ao invés de ser elaborado um sistema de ensino que zele pela universalização desse direito fundamental, teremos um sistema com maior evasão escolar por parte das camadas mais baixas por questões financeiras. Enquanto do outro lado será perpetuado a lógica do “estudante profissional” - na qual adolescentes de classe média tendo todas as benesses de instituições privadas e dois turnos do dia para se dedicarem ao ensino continuarão ocupando as vagas dos cursos universitários que deveriam ser oferecidas aos mais humildes.

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