domingo, 2 de outubro de 2016

A Fragilidade do Voto nas Eleições Municipais de 2016




A Fragilidade do Voto nas Eleições Municipais de 2016

Dennis de Oliveira Santos

Nas eleições municipais, as campanhas são uma junção de práticas políticas tradicionais ao uso de um intenso marketing televisivo. Tradicionalmente a ideia de um voto "ideológico", calcado no debate de ideias e nos posicionamentos partidários é substituída pela imagética exposição midiática que pragmaticamente eleva candidatos aos cargos de prefeitos.

No tocante a propaganda eleitoral gratuita, muitas vezes se percebe a ausência da coligação partidária de apoio aos candidatos e o nome do vice-prefeito nas exposições públicas das campanhas. Dentro desse ambiente é relevante ressaltar que o voto do "brasileiro médio" não é fruto da discussão de projetos ou alinhamento com posições partidárias.

Essa "nulidade" de valores partidários por parte do público votante é observável no primeiro turno dessas eleições em Santa Catarina, por exemplo, estado onde em mais de vinte cidades o PT apoia abertamente candidatos do PMDB. O que demonstra que a rivalidade nacional toma contornos muito específicos na esfera municipal. Acontecimento reeditado tomando eleições anteriores como referência. Nacionalmente os petistas apoiaram o partido de Temer em 648 municípios.

Essa política de alianças demonstra a fragilidade ideológica de nossas agremiações partidárias e a prevalência da mentalidade conservadora/patrimonialista de se estruturar o poder a partir de práticas clientelistas - inclusive um dos motivos que levou Dilma a ser deposta do poder. Ações estas que estão enraizadas no imaginário coletivo do nosso povo e seus respectivos representantes desde o século XIX, época em que apesar das divergências ideológicas e disputas políticas, os partidos simbolizavam a acomodação dos setores sociais abastados no centralismo político imperial.

Desde aquela época, longe de não se distinguirem em termos de composição e ideologia, os partidos políticos brasileiros se revelam como úteis instrumentos para atender as fissuras das elites, mesmo que elas fossem de natureza a provocar apenas reajustes no sistema sociopolítico do país. Fatos que se tornam evidentes hoje ao ver velhos caciques políticos como Acm Neto em Salvador voltando ao cargo público. Também representando essa visão tradicional de poder, o PMDB confirmou o mais do mesmo: o partido símbolo do fisiologismo demonstrou a sua supremacia nessa modalidade eleitoral, algo que acontece desde a primeira eleição após a Constituição de 1988.

Além dessas tradicionais práticas, o fator tempo de propagandas televisivas é determinante nos votos municipais. Diversos dados estatísticos e as discussões entre teóricos apontam para uma regularidade a cada eleição de que os candidatos que tiveram mais tempo de programa também foram os que ganharam mais intenções de voto. Na capital paulista, mesmo o empresário Doria (PSDB) ter sido candidato pela primeira vez, o mesmo conseguiu barrar a reeleição do petista Haddad. Com um exaustivo marketing político e com maior tempo de exposição na tv (3 minutos e 6 segundos do tucano contra 2 minutos e 35 segundos do atual prefeito - dados do Tre paulista) o PSDB ganha a prefeitura no primeiro turno.

Muito mais importante que entender os ganhos e refluxos dos partidos políticos é salutar refletir a partir desses aspectos como o nosso sistema eleitoral é fragilizado. E isso não se dá no aspecto institucional, mas sim na mentalidade do eleitorado, o qual sem uma sólida posição partidária ou identificação com programas governamentais vota induzido pelas pressões das pesquisas eleitorais e marketing político freneticamente utilizado na esfera pública.  

É o velho assunto da sociologia política brasileira: com uma sociedade civil distante de um profundo debate de ideias, com uma mídia unilateral politicamente e a ausência de legendas "ideologicamente" fortes não temos uma renovação política necessária para vencer as antigas práticas de domínio eleitoral. E mais, tudo isso demonstra como o brasileiro vota "mal" ao elencar fatores politicamente secundários como motivos para eleger os seus prefeitos. 

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