A Fragilidade do Voto nas Eleições Municipais de 2016
Dennis de Oliveira
Santos
Nas eleições municipais, as
campanhas são uma junção de práticas políticas tradicionais ao uso de um
intenso marketing televisivo. Tradicionalmente a ideia de um voto
"ideológico", calcado no debate de ideias e nos posicionamentos
partidários é substituída pela imagética exposição midiática que
pragmaticamente eleva candidatos aos cargos de prefeitos.
No tocante a propaganda
eleitoral gratuita, muitas vezes se percebe a ausência da coligação partidária
de apoio aos candidatos e o nome do vice-prefeito nas exposições públicas das
campanhas. Dentro desse ambiente é relevante ressaltar que o voto do "brasileiro
médio" não é fruto da discussão de projetos ou alinhamento com posições
partidárias.
Essa "nulidade" de
valores partidários por parte do público votante é observável no primeiro turno
dessas eleições em Santa Catarina, por exemplo, estado onde em mais de vinte
cidades o PT apoia abertamente candidatos do PMDB. O que demonstra que a
rivalidade nacional toma contornos muito específicos na esfera municipal.
Acontecimento reeditado tomando eleições anteriores como referência.
Nacionalmente os petistas apoiaram o partido de Temer em 648 municípios.
Essa política de alianças
demonstra a fragilidade ideológica de nossas agremiações partidárias e a
prevalência da mentalidade conservadora/patrimonialista de se estruturar o
poder a partir de práticas clientelistas - inclusive um dos motivos que levou Dilma
a ser deposta do poder. Ações estas que estão enraizadas no imaginário coletivo
do nosso povo e seus respectivos representantes desde o século XIX, época em
que apesar das divergências ideológicas e disputas políticas, os partidos
simbolizavam a acomodação dos setores sociais abastados no centralismo político
imperial.
Desde aquela época, longe de não
se distinguirem em termos de composição e ideologia, os partidos políticos
brasileiros se revelam como úteis instrumentos para atender as fissuras das
elites, mesmo que elas fossem de natureza a provocar apenas reajustes no
sistema sociopolítico do país. Fatos que se tornam evidentes hoje ao ver velhos
caciques políticos como Acm Neto em Salvador voltando ao cargo público. Também
representando essa visão tradicional de poder, o PMDB confirmou o mais do
mesmo: o partido símbolo do fisiologismo demonstrou a sua supremacia nessa
modalidade eleitoral, algo que acontece desde a primeira eleição após a
Constituição de 1988.
Além dessas tradicionais
práticas, o fator tempo de propagandas televisivas é determinante nos votos
municipais. Diversos dados estatísticos e as discussões entre teóricos apontam
para uma regularidade a cada eleição de que os candidatos que tiveram mais tempo
de programa também foram os que ganharam mais intenções de voto. Na capital
paulista, mesmo o empresário Doria (PSDB) ter sido candidato pela primeira vez,
o mesmo conseguiu barrar a reeleição do petista Haddad. Com um exaustivo
marketing político e com maior tempo de exposição na tv (3 minutos e 6 segundos
do tucano contra 2 minutos e 35 segundos do atual prefeito - dados do Tre
paulista) o PSDB ganha a prefeitura no primeiro turno.
Muito mais importante que
entender os ganhos e refluxos dos partidos políticos é salutar refletir a
partir desses aspectos como o nosso sistema eleitoral é fragilizado. E isso não
se dá no aspecto institucional, mas sim na mentalidade do eleitorado, o qual
sem uma sólida posição partidária ou identificação com programas governamentais
vota induzido pelas pressões das pesquisas eleitorais e marketing político
freneticamente utilizado na esfera pública.
É o velho assunto da sociologia
política brasileira: com uma sociedade civil distante de um profundo debate de
ideias, com uma mídia unilateral politicamente e a ausência de legendas "ideologicamente"
fortes não temos uma renovação política necessária para vencer as antigas
práticas de domínio eleitoral. E mais, tudo isso demonstra como o brasileiro
vota "mal" ao elencar fatores politicamente secundários como motivos
para eleger os seus prefeitos.
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