A Vitória
de Trump e a Ascensão Global de Governos Direitistas
Dennis de
Oliveira Santos
A explicação da vitória de Trump e a guinada de
governos direitistas mundialmente está atrelado a explicações populistas e de bodes
expiatórios. Questões que bem manipuladas diante de uma crise global e do
afastamento das esquerdas em atender as demandas populares tem alcançado seus
objetivos. E isso é um processo histórico que se repete continuamente ao longo
do século XX.
A ascensão de Hitler ao poder é o exemplo clássico
desse processo. A Alemanha vivia um caos social, o qual era fruto da guerra dos
mercados entre as potencias europeias e a sua derrota na Primeira Guerra. As
causas do fracasso alemão eram complexas e estavam atreladas a esses fatores. Apesar
disso, o autor do Mein Kampf soube se beneficiar dessa fragilidade social ao
manipular as emoções coletivas sob a égide de um ensandecido nacionalismo. Ele
atribuiu toda a instabilidade local a um bode expiatório, manipulação simplista
que serviu como falsa explicação para o problema e gerou um clima de identificação
nacional entre os germanos.
Esse bode expiatório eram os judeus habitantes daquele
país. Como os alemães viam essa população bem-sucedida ao dominar bancos, comércios,
propriedades rurais; identificaram na falácia nazista a lógica de que esses “estrangeiros”
estavam tomando os espaços sociais dos nativos. O discurso básico fascista é
elencar uma falsa explicação, um bode expiatório de fácil aceitação, fator que
superficialmente faça sentido ao povo e o motive a tomar certos caminhos
políticos.
Processo político semelhante é observável na
vitória do estadunidense Trump. O flagelo social dos Estados Unidos tem como
ponto de partida a crise imobiliária no ano de 2008 e ligada as ações do governo
republicano de Bush. Entretanto, as consequências maiores foram vividas no
governo Obama. Nesse ambiente, o democrata priorizou oferecer assistência aos
mais humildes para amenizar os impactos sociais - criou programas de saúde para
a população negra, procurou dá estabilidade de moradia aos imigrantes e etc.
Isso gerou uma revolta no seio da população
branca e pobre - para esse setor era injusto dá benesses aos mais pobres
enquanto eles perdiam seu poder de compra. É como se eles tivessem a sensação
de estarem na fila do “sonho americano” enquanto negros e latinos furavam-na com
apoio estatal; ganhando antes deles certas benesses. É dentro desse contexto que
a ala republicana soube utilizar muito bem a explicação do bode expiatório - a
crise existe porque Obama priorizou os negros, deu benefícios demais a eles,
permitiu que os mexicanos fossem para o país e tomassem o emprego dos norte
americanos. Uma explicação de apelo populista, muito superficial em identificar
os reais motivos do crescimento da desigualdade social, mas suficientes para a
identificação dos setores sociais menos favorecidos.
No Brasil se observa o mesmo fenômeno político,
o país foi afetado pela crise global enquanto Temer utiliza o mesmo mecanismo
explicativo ao elencar como a “caixa de pandora tupiniquim” os gastos sociais
do PT com setores subalternos. Esse discurso foi responsável pela vitória de
Macri na Argentina e tem enfraquecido o governo de Maduro na Venezuela.
Além desse processo acrescenta-se o fato de que
as esquerdas se burocratizaram e hoje tem seus projetos políticos mais
conhecidos pela classe média do que os próprios pobres. Isso é observável nos
democratas a lá Clinton que geralmente pertencem as classes intermediárias nos Eua. O que também
foi visto nas eleições municipais do Rio de Janeiro, cidade em que o PSOL teve
uma votação mais expressiva entre universitários de melhor poder aquisitivo do que os jovens das favelas
locais.
Percebe-se que a esquerda padece de um sólido
sistema de comunicação que consiga penetrar nas demandas das classes subalternas.
Qual é o resultado dessa condição social? Um contingente expressivo de pobres
hoje órfãos de mudanças governamentais efetivas. O que dá margem a esse setor
em se identificar com as explicações simplistas de partidos neoliberais. Um processo
político observado nos Estados Unidos, América Latina e Europa através das
urnas.
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