A Necropolítica como Ferramenta de
Controle na Politica Contemporânea
por Dennis de Oliveira Santos
O filósofo camaronês chamado
Achillle Mbembe traz à tona o conceito de necropolítica, um assunto muito em
voga na ciência política para discutir as relações de poder estabelecidas entre
sociedade e Estado no mundo contemporâneo. Através de um ensaio se alega que a dominação
colonialista imposta pelos europeus nos países periféricos deixou como marca,
traços de racismo e de políticas discriminatórias em geral por parte dos
aparelhos estatais.
Ele utiliza como local para
observação de suas teses a realidade do continente africano. Durante o século
XIX e primeira metade do século XX, a dominação europeia na região era baseada
numa rígida imposição da escravidão a população local, diferenciações sociais
em que negros não tinham acesso a direitos básicos e uma pesada jornada de
trabalho aos não europeus.
Esses fatores vão estruturar uma
desigualdade social e um rígido controle social (que passa pelas instituições
jurídicas), as quais vão permanecer nas nações mesmo já sendo independentes dos
países europeus. Mesmo hoje as nações sendo democratas, independentes e não
mais escravocratas, a consequência é a permanência de uma sociedade muito
hierarquizada e que sofre todo tipo de violência e segregação no sistema
capitalista de produção.
A formação dos Estados nacionais
na periferia do capitalismo evidenciou um projeto de poder baseado nas marcas
da colonização, a qual não emancipou a população de processos discriminatórios.
Tradicionalmente a política trabalha com a ideia de universalizar os direitos a
todos os seres humanos, ideia cara ao Ocidente, mas algo que não se vê de forma
clara países na América Latina e na África que foram colônias das potencias
europeias.
Dentro dessa lógica, o Estado
desenvolveu formas repressivas de controle social. Essas práticas sustentam as
hierarquias sociais e uma política de “segurança” que viola direitos básicos.
Quer dizer, a partir do racismo que permanece no mundo atual, as autoridades
públicas ditam em suas ações quem deve viver e quem deve morrer dentro da
vivência política.
O Estado se pauta da letalidade
para dizer qual cidadão deve permanecer vivo ou não – a necropolítica. Essa
ação estatal se percebe em várias nações, mas ela se intensifica em países
periféricos pelo fato da democracia nesses locais ainda sofrerem uma série de
restrições.
O exercício da necropolítica,
instante em que o Estado se estrutura em ações discriminatórias é o grande
motor de guerras e conflitos atuais. Baseado na ideia de defesa nacional, por
exemplo, o governo israelense massacra o povo palestino através de uma forte
ação de extermínio. E dentro dessa situação nem se abre a possibilidade de ver
o outro como portador de direitos básicos – apenas a ideia de que deve ser
eliminado em nome da supremacia nacional e de controle territorial. Se
desumaniza os povos palestinos, definem se eles devem morrer ou não para
garantir acima de tudo a dominação política de Israel na questão da Palestina.
A necropolítica coloca as ações de
extermínio e controle estatal acima dos direitos básicos e não considera o
outro como um ser humano que deva ser minimamente respeitado. Sendo assim, o
poder constituído no mundo ocidental é bastante assimétrico, instante em que o
Direito deve ser profundamente rediscutido no sentido de relações sociais e
políticas mais justas.
O racismo é o motor de princípio
da necropolítica praticada pelos Estados. Isso pode ser percebido nas políticas
de restrições da Europa em dificultar a chegada de imigrantes em seus
territórios – leis cada vez mais severas e sistemas de vigilância marítimos que
controlam constantemente os que chegam à região. No Brasil, durante o ano de
2016, segundo estatísticas oficiais, o número de homicídios foi de 65.517,
sendo que os negros nessa numeração sofreram 2,5 vezes mais com a situação ao
serem comparados com as pessoas não brancas. Exemplos sociais da necropolítica que
tornam as relações humanas pautadas por ações discriminatórias.
Dessa forma, a necropolítica é uma
importante ferramenta conceitual para entender a forma assimétrica e impositiva
que os Estados nacionais agiram em situações como dizimação dos povos
indígenas, o holocausto, o apartheid na África do Sul, o racismo no Brasil e
etc. A meta governamental sendo assim é de impor medidas estratégicas de
extermínio aos corpos considerados “desajustados” a ordem pública. Existe nessa
lógica, a prática política em que pessoas “são descartáveis” ou não por parte
do governo, mesmo que o Estado hoje institua leis e constituições que prezem
pela universalização dos direitos humanos.
A política da morte opera de modo
sistêmico e pontual segue os próprios valores e tem como definidor o critério
raça. Tanto no período de colonizações europeias como em ambientes definidos
formalmente pela democracia, populações têm suas liberdades suprimidas por
parte das autoridades públicas. A necropolítica trabalha com o extermínio das pessoas
e um rígido controle territorial, o qual pode determinar quem deve ser
executado sem o menor constrangimento legal.
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