quarta-feira, 16 de março de 2011

Aprendizagem: Processo Contínuo

por Dennis de Oliveira Santos



(Discurso proferido na colação de grau do referido autor na graduação em Ciências Sociais pela Universidade de Fortaleza em janeiro de 2008).


Excelentíssimo Senhor Chanceler Airton Queiroz,
Magnífico Reitor da Universidade de Fortaleza, Professor Carlos Alberto Batista Mendes,
Ilustríssima senhora Yolanda Queiroz, Vice-Presidente da Fundação Edson Queiroz,
Excelentíssimas autoridades presentes,
Ilustríssimos professoras e professores,
Senhoras e senhores,
Caros formandos,

A reta final de uma graduação nos conduz ao ponto de partida. Qual de nós não recorda o peculiar momento da admissão no vestibular após longos dias de estudos sob pressões incomensuráveis; dos constantes esforços na tentativa de apreender as noções de diversos saberes? Todos os graduados desta noite passaram pela constante necessidade de expansão da base do aprendizado, muito além das fronteiras dos livros e conhecimentos específicos das respectivas áreas. Enfim, podemos dizer que nos capacitamos para atuarmos em nossa profissão, embora conscientes de que a aprendizagem é um processo contínuo. É chegada a hora de cruzarmos os muros acadêmicos e depararmos com o mundo repleto de complexidades.

O que mais nos marcou nesta árdua jornada? Decerto que teremos respostas bastantes díspares. O fato é que cada pequeno momento, cada uma dessas distantes lembranças simboliza e representa algo em nossas vidas. Estamos rodeados por símbolos neste mundo hipertextual: as formalidades desta cerimônia, o formato deste auditório que nos cerca, as vestimentas que nos ocultam, a música que entoa em nossos ouvidos, o tapete vermelho que nos conduz e o título que, em breve, nos será conferido. Símbolos que despertam diferentes emoções e sensações em cada um de nós. Diferentes foram as motivações que, entrelaçadas, balizaram nosso caminho rumo à profissão que abraçamos. Resta dizer que a cerimônia solene de hoje é símbolo final e inicial, chegada e partida, semente e fruto. É hora de celebrar. Após vários esforços e muitas renúncias atingimos o alvo desejado, porquanto alcançamos o objetivo a que nos propomos: somos bacharéis no tipo de conhecimento específico com o qual mais nos identificamos. Este título é algo que deve ser comemorado com a mais profunda e sincera alegria por todos nós. É, portanto, mais do que justo que celebremos com toda ênfase este momento.

No entanto, de que serve o título que estamos prestes a receber se não tivermos consciência da nossa eterna condição de aprendizes, se olvidarmos a eterna certeza de nossas dúvidas, se não evitarmos a arrogância intelectual, se não tivermos o espírito humilde para a busca incessante por novos conhecimentos e se não compartilharmos o saber adquirido? Em qualquer formação acadêmica, quatro ou cinco anos de graduação universitária já não são suficientes para atender às necessidades do voraz mercado e da rígida divisão do trabalho social. É preciso mais!

Muito mais que cavaleiros em cerimônia de investidura, muito mais que fazer parte de parcela privilegiada da população brasileira que tem acesso à educação, mais do que possuidores de condições potenciais para galgar uma situação financeira confortável, nós somos responsáveis moralmente por atender aos clamores e deveres que derivam do referido título acadêmico. A função do conhecimento adquirido em todos esses anos de estudo é servir a nossa comunidade em suas necessidades. Afinal, para que servem os instrumentos que dominamos, as informações teóricas que adquirimos, as técnicas metodológicas que aprendemos senão para serem utilizadas em prol da emancipação humana?

De fato, senhoras e senhores, nós temos uma função social. Somos mais do que meros operadores de instrumentos técnicos e teorias científicas. Temos nas mãos a possibilidade de transformação social, pois saber é poder. Somos instrumentos de transformação e, ao mesmo tempo, cidadãos – membros de uma categoria social constituída por pessoas devotadas à busca do bem comum e integrantes de uma comunidade nacional. Daí a emergência de nos conscientizarmos das responsabilidades que nos cabem no uso do conhecimento adquirido em nossas áreas. Devemos estar atentos para o fato de como esse saber será usado para usufruto daqueles que mais necessitam em nosso país: o povo tão pobre e carente de condições sociais que melhorem a sua vida.

Os cientistas e intelectuais num país como o nosso talvez vivam se questionando sobre o seu papel e o seu lugar. A história está “acontecendo”, ela nos rodeia, nos solicita soluções a todo instante e não espera pelos retardatários. Assim sendo, não devemos conceber a idéia dos intelectuais neutros, que fabricam o seu silêncio perante a realidade social ao se enclausurassem em seus debates técnicos. Não devemos nos conformar em compreender o mundo, devemos transformá-lo com o conhecimento adquirido. Nossa função é servir à população como um todo, desenvolvendo saberes e mecanismos capazes de intervirem na vida daqueles que necessitam de nossos serviços.

Desse modo, o conhecimento torna-se unidade entre a ação e a idéia, entre práxis e teoria, pois a reflexão teórica não se faz descolada da realidade social. Esta relação entre intelectual e sociedade não é uma abstração, é algo tão concreto como um dia após o outro. E, talvez, seja esta relação o lugar que deve o intelectual/cientista não abrir mão, independente de sua origem ou área do saber científico. Este lugar não é um espaço teorético, é um local concreto, palpável, capaz de condicionar a atividade científica rumo à concretização da liberdade dos homens. Os instrumentos técnicos utilizados pelo homem podem coisificá-lo, aliena-lo das potencialidades de sua existência. Por isso, devemos refletir sobre o uso e conseqüências desses mecanismos oriundos da produção científica.

Lembrem-se caros colegas de formatura, a tecnologia que liberta é a mesma que aprisiona. Temos um papel transformador, tais quais os instrumentos que temos nas mãos. Somos profissionais oriundos da Universidade e temos o dever de nos aproximarmos da sociedade. Temos uma dívida para com ela e para com o nosso país. Vivemos num Brasil com milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza, onde apenas uma pequena parcela da população consegue obter um diploma de nível superior. Nosso maior desafio é pensarmos qual o tipo de sociedade desejamos e, para isso, devemos enxergar além das “sombras das cavernas técnicas” nas quais estamos inseridos. A função social do conhecimento, a qual contempla a razão como instrumento em prol da emancipação humana deve ser uma meta buscada e atingida por todos nós!

Por fim, aos que nos ajudaram nessa grande batalha, o nosso eterno agradecimento. São professores e pais que nos incentivaram em cada momento de nossa graduação. Aliás, que os meus queridos pais possam representar neste momento o amor e dedicação de cada um dos pais aqui presentes. Parabéns a todos os formandos, que todos tenham um grande cavalgar profissional neste ano que se inicia e que ele possa trazer novos e gloriosos prenúncios de grandes conquistas a cada um de nós.

Obrigado a todos e boa sorte!

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