terça-feira, 19 de agosto de 2008

Lições Aristotélicas de Economia



Lições Aristotélicas de Economia


Dennis de Oliveira Santos

Apesar de não ter elaborado uma teoria econômica propriamente dita, a exemplo de Marx e os economistas clássicos, Aristóteles confeccionou algumas considerações acerca da atividade econômica, à partir de seu contexto social na Grécia Antiga. O filósofo não deixa de refletir sobre o tema, sobretudo nas “Económicas”.
O autor tece uma diferença fundamental entre o âmbito político e econômico, para à partir daí aprofundar-se em torno dos fatos econômicos. A vida social grega dividia-se em dois ambientes: a polis (política) e a oikos (economia), áreas de atividades sociais distintas entre si.
A política versa sobre a cidade, envolvendo o governo de muitos, a relação entre iguais e para todos deliberarem. Neste tipo de atividade social, almejava-se a liberdade, sendo este o fim a ser buscado pelos homens; o todo produtor da bios, expressão de forma de vida, a excelência humana.
A economia versa sobre a arrumação da casa, o governo de um só (o homem dono de sua propriedade), a ciência do lar. Neste ambiente social o objetivo é a saciedade das necessidades dos homens (alimentação, lar, etc), o meio que iria garantir as necessidades vitais, para que à partir daí, o homem possa buscar o todo, o qual é encontrado na atividade política. Diante dessa concepção, a economia (a oikos) é apenas uma parte do todo, produtora da vida orgânico (zoé) para que consiga-se chegar ao todo, que é a pólis.
Diante dessa formulação, há uma relação entre a economia (oikonomia) e a crematística (apropriação de algo), sendo que Aristóteles distinguiu a existência de dois modos de enriquecimento: a natural; a troca e venda de mercadorias, instante em produzia-se bens para a finalidade de uso, o que é moralmente justo, e a não-natural, na qual os lucros eram obtidos por meio do empréstimo de dinheiro a juros e dos negócios em geral, momento que a venda em atacado dota a moeda como finalidade, um fim em si mesmo no próprio objeto. A natural tem a sua finalidade nos valores de uso, enquanto a não-natural nos valores de troca.
Sendo assim, são duas as condições necessárias para a troca de mercadorias distintas: a) serem coisas adquiridas, diferentes entre si; b) é preciso que sejam igualadas; c) é preciso que relacionem-se através de uma terceira coisa, o dinheiro). Então, a justiça possui dois sentidos nesse contexto: no sentido amplo (lei, virtude em sentido amplo, o qual coíbe os vícios e estimula as virtudes) e o sentido restrito (justiça distributiva, justiça na desigualdade).
Assim, busca-se a reciprocidade, a troca de equivalentes. Para haver uma reciprocidade proporcional entre coisas distintas, deve suceder-se os seguintes procedimentos: a) as mercadorias serem diferentes; b) em seguida devem ser igualadas, c) devem ser igualadas através de um padrão, uma norma, que é o dinheiro.
Tecendo tais reflexões, Aristóteles vai criticar a crematistica, por esta desviar a moeda de sua função comum dos valores. Ao invés desta norma convencionada em sociedade possuir apenas seu intuito inicial, ser um meio para se alcançar o todo que é a mercadoria, ela acaba “desvirtuando-se” de sua função natural, tornando-se assim, um fim em si mesmo. Acumular moedas permite adquirir qualquer bem, porém, ao ganhar a categoria de “capital”, a moeda abandona sua função essencial e torna-se uma finalidade em si mesma.
Diante desse aspecto, como os gregos conceituavam a atividade econômica apenas como um meio de garantir a vida orgânica, a mera atividade do cotidiano do lar, atividade de segunda categoria, marginal, para a partir daí almejar a excelência de vida efetivada na deliberação política, o filósofo da Antigüidade condena o emprego de juros, o empréstimo, a venda em atacado e atividades em geral onde a moeda ganha status de fim em si mesma. Esta (a moeda) torna-se moralmente injusta e não-natual, por perder sua função inicial, não sendo uma virtude por dotar-se de uma finalidade ao invés de ser um meio de alcançar-se uma mercadoria.

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