domingo, 17 de agosto de 2008

O Conceito Sociológico de Ideologia em Marx e Mannheim



O Conceito Sociológico de Ideologia em Marx e Mannheim


Dennis de Oliveira Santos


Notas de aula para debate sobre o filme Adeus Lenin e o tema: a atuação da ideologia nas relações sociais


Discussão Preliminar:
Tanto no âmbito da práxis política como nas ciências sociais, a concepção de ideologia é trabalhada a partir de diversas concepções, e empregada por uma gama de sentidos. Apesar dessa aparente contradição científica sobre esse termo, o conceito de ideologia é de suma relevância para a análise sociológica. Através de seu emprego, percebe-se que as diversas formas de conhecimento não se desenvolvem no vácuo social, em função da despretensiosa acumulação de informações, conceitos e teorias. Mas que nossas opiniões, inclusive as de cunho artístico ou cientifico, são determinadas pela situação histórica e social de nosso tempo. Sempre há uma relação sociológica entre as manifestações intelectuais e valores socialmente determinadas por um grupo.
O Conceito em Marx:
Para Marx(1) não há uma separação entre a produção de idéias e as condições sociais e históricas nas quais são produzidas essa idéias. As idéias que os homens produzem estão idissoluvelmente atrelada às condições materiais de produção da existência, ou seja, as idéias nascem da atividade material.
Porém, a sociedade não representa nessas idéias a realidade de suas condições materiais, ao contrário, representam o modo como essa realidade social lhes parece na experiência imediata. Dessa forma, as idéias tendem a postular uma representação invertida do processo real, alienando os indivíduos das contradições sociais nas quais ele está inserido.
O que torna a ideologia atuante nas relações sociais é a suposição de que as idéias existem em si e por si mesmas desde toda a eternidade, a separação entre trabalho material e trabalho intelectual, hierarquizando entre trabalhadores e pensadores. Desse modo, a ideologia é um mecanismo de dominação de uma classe sobre as outras.
A ideologia possui o sentido de uma concepção ilusória, necessária à dominação de classe, a qual inverte/abstrai o conhecimento de uma realidade tal como se oferece à nossa experiência, o que impede que o ser se indague como essa realidade foi concretamente produzida, tornando esse alienado de suas possibilidades sociais. Em outros termos, as ideologias agem com o intuito de que os homens creiam que suas vidas são o que são em decorrência da ação de certas entidades (religião, Estado, razão) que existem em si e por si e às quais é legítimo e legal se submeterem.
O Conceito em Mannheim:
Mannheim(2) considera que todo o pensamento é um processo determinado por forças histórico-sociais. Assim, as ideologias seriam modos de pensar que refletem os interesses de um grupo dominante, que prevalecem numa organização social, que justificam determinadas ações em nome da preservação do status quo reinante.
A concepção de ideologia consiste em atribuirmos ás formações intelectuais não aos indivíduos que lhe sustentam, mas considerá-las como construções de um conhecimento que é o reflexo de um estado social, historicamente fundamentado, que possui o objetivo de justificar a ordem social vigente. Esta noção refere-se numa análise de ideologia enquanto o pensamento revela uma correspondência com a situação de um grupo social. Ao invés de se analisar as afirmações no âmbito psicológico, visa-se analisá-la como funções de sua base social.
Crítica a noção de ideologia em Marx, por esse analisar sobre um prisma demasiadamente valorativo, o qual considera uma ideologia falsa (burguesa por exemplo) e outra positiva (comunismo). Ao invés dessa postura, Mannheim sugere devemos reconhecer o processo do conhecimento como um conhecimento relacional, que só pode ser formulado com referência á posição do observador ao se defrontar com a tarefa de discriminar o que num dado conhecimento seja falso ou verdadeiro.
A análise de elementos ideológicos permite verificar que as produções humanas (intelectuais, religiosas, científicas, etc) conduzem a justificação ou interligação com valores morais e políticos de uma esfera social.
Exemplos Empíricos do uso de Ideologias nas Relações Sociais:
A classe burguesa, hegemônica historicamente no sistema capitalista, através do Estado, formula leis que garantam a igualdade a todos os indivíduos. Porém, essa norma é dada apenas de forma abstrata quando se percebe que determinadas minorias como os homossexuais, por exemplo, não são amparados judicialmente no que condiz a união conjugal. O que demonstra que as ações jurídicas não são isentas de pressupostos valorativos, neutras, pois elas são determinadas ideologicamente a partir de interesses de determinados grupos dominantes. Afirmação comprovada na observação da Constituição Federal:
Art. 3a) Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação(4).
A mídia, sob o pretexto de imparcialidade jornalística, também tende a representar os interesses políticos/sociais dos grupos que a detêm. Exemplo disso são reportagens de cunho elitista, que de forma ideológica, tecem uma representação social marginalizante e preconceituosa sobre as classes subalternas. Eis o exemplo:
Os pobres ignorantes são o principal tema de disputa entre os analistas de pesquisas eleitorais. Em particular, os pobres ignorantes do Nordeste. Os lulistas acreditam que os pobres são tão ignorantes, mas tão ignorantes, que vão acabar votando em Lula. Os tucanos discoram. Eles acreditam que os pobres do Nordeste podem até declarar voto em Lula nas pesquisas eleitorais, mas são tão ignorantes, tão ignorantes, que vão apertar o botão errado na hora de votar, anulando suas escolhas. (...) O Brasil não é dominado por uma elite má. (...) O Brasil é dominado por uma massa de pobres ignorantes. Eles estão decidindo por nós. E estão decidindo muito mal. Isso se não confundirem os algarismos e apertarem os botões errados(5).
Conclusões:
Através do conceito de ideologia detecta-se que todo o ato do conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica, mas também de inúmeros elementos de natureza não teórica, oriundos da vida social e das influências e vontades ao qual o indivíduo está sujeito. A história do pensamento em seus suportes intelectuais, se vinculava a estas formas de experiência: delineia-se a íntima relação entre pensamento e esfera social.
Portanto, visa-se analisar as ideologias provenientes das atividades intelectuais correspondentes a estrutura da sociedade, que varia com relação às classes sociais। Percebendo que estas idéias não são um mero ajuntamento causal de experiências fragmentárias dos membros isolados de um grupo social, mas sim uma totalidade integrado num sistema de pensamento objetivadas à partir dos interesses de uma dada classe social.


Referências Bibliográficas
1MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.
2MANNHEIM, Karl. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Zahar, 1968.
3ADEUS LENIN. Direção: Wolfgang Becker. Intrépretes: Daniel Bruhl, Florian Lukas. Roteiro: Bernd Lichtenberg. Berlim: X Filme Creative Pool, 2003. 1 DVD, 117 min, widescreen, color.
4CONSTITUIÇÃO FEDERAL: Promulgada em 5 de Outubro de 1988. 8ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2004, p. 15.
5MAINARDI, Diogo. Sem Lula, O Mundo é Melhor. Disponível em <http://veja.abril.com.br/200906/mainardi.html> Acesso em: 17 de Novembro de 2006.


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