terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Fidelidade Partidária e o Posicionamento Político de Esquerda do PCB em Questão


A Fidelidade Partidária e o Posicionamento Político de Esquerda do PCB em Questão

(Carta aberta ao Partido Comunista Brasileiro em Agosto/2008 - pcbgo@pcb.org.br / http://www.pcb.org.br)

Dennis de Oliveira Santos

Olá caros membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nesses últimos dias tenho acompanhado pela mídia as eleições municipais na cidade de Luziânia (GO), e uma informação acerca dessa agremiação partidária me causou surpresa e espanto. O fato é que nesse município o PCB surge na propaganda eleitoral como um partido de apoio a campanha dos candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT) na coligação CORAGEM PRA MUDAR (PCdoB, PCB, PSL, PT, PSB). Notícia que é no mínimo contraditória em relação aos posicionamentos políticos defendidos arduamente pela cúpula nacional desse grupo partidário e por seus respectivos meios de comunicação (site, PCB rádio/tv e etc).


Ao longo desses últimos anos o partido alega ser o mais autêntico defensor das idéias socialistas no país, e como representante majoritário dos ideais de revolução comunista e a ruptura definitiva com os meios de produção do sistema capitalista, aponta o PT como mais um segmento partidário representante da mentalidade “pequeno-burguesa” das elites brasileiras. Em seus discursos e atos públicos alega-se que a “metamorfose política” sofrida pelos líderes petistas na década de 90 até chegar ao poder resultou num esvaziamento de propostas políticas de esquerda dentro desse grupo partidário. O que equivale afirmar que a proposta socialista e democrática do PT se esmaeceu nos últimos anos pela busca pragmática/clientelista do poder. O socialismo tornou-se apenas um ideal ético para melhorar o capitalismo de forma progressiva, e à idéia de que o mercado e o capitalismo são insuperáveis tornou-se uma máxima entre políticos como Luís Inácio da Silva e Tarso Genro.


Outro problema grave apontado é a aliança do PT com partidos considerados redutos da direita brasileira no sentido de manutenção do poder. Quer dizer, a forte burocratização do aparelho dirigente desse partido limita a autonomia de se construir alternativas que rompam com as velhas práticas políticas do poder brasileiro, ações típicas dos grupos de direita. Sem contar que se encontra aí uma concepção patrimonial: a velha prática do “fisiologismo” partidário – momento em que os partidos tornam-se “moeda de compra e venda” para manutenção do poder e interesses específicos/particularistas de seus dirigentes. Enfim, na concepção do PCB, o Partido dos Trabalhadores não apresenta horizontes de mudanças sociais e democráticas para o Brasil em função da perda de seus intuitos socialistas e de sua gradual “metamorfose política” de cunho centrista.


Nesse sentido, a ação do partido em se aliar ao PT em eleições municipais é uma verdadeira contradição com seus princípios comunistas e revolucionários. Acontecimentos da política nacional que demonstra a fragilidade ideológica de nossas agremiações partidárias e a prevalência da mentalidade conservadora/patrimonialista de se estruturar o poder a partir de práticas clientelistas. Ações estas que estão enraizadas no imaginário coletivo do nosso povo e seus respectivos representantes desde o século XIX, época em que apesar das divergências ideológicas e disputas políticas, os partidos simbolizavam a acomodação dos setores sociais abastardos no centralismo político imperial. Desde aquela época, longe de não se distinguirem em termos de composição e ideologia, os partidos políticos brasileiros se revelam como úteis instrumentos para atender as fissuras das elites, mesmo que elas fossem de natureza a provocar apenas reajustes no sistema sóciopolítico do país. Diante dessas considerações, lançam-se as seguintes indagações a serem esclarecidas pelos dirigentes do PCB:


· Por que o PCB se coligou com um de seus principais rivais políticos, o PT, fonte de tantas críticas negativas de seus dirigentes?


· Existe algum interesse particularista/regional por parte dos representantes do partido em Luziânia? E se houver, como diferenciar o PCB de outras agremiações partidárias (que se utilizam práticas clientelistas), se o mesmo abandona seus ideais políticos em detrimento de uma política de alianças com um adversário?


· De que forma o partido pode ser um agente de transformação social das estruturas políticas brasileiras se dentro do mesmo é sustentada velhas práticas patrimoniais no poder?

Lembrando que este questionamento tem a finalidade de levantar um debate e o esclarecimento por parte do PCB. Além disso, ele apenas se origina da curiosidade de um cidadão-eleitor brasileiro, o qual anseia pelo empenho e clareza das propostas políticas de nossos representantes.

Desde já bastante agradecido, e a espera de respostas,

Dennis de Oliveira Santos ( sinnedos1@gmail.com )

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